Ella Dominici: Poema ‘Essência visionária’


às 5:51 AM
Tem nos olhos a febre das manhãs que não dormem,
um lume de marés que se escrevem em sargaços.
A palavra lhe nasce em sístoles de vento,
tecendo silêncios de um tempo sem nome.
Seus passos são traços no ventre da areia,
onde a escrita se esquece, mas nunca se apaga.
Carrega no peito o sal das perguntas,
nas mãos, a tinta que verte do abismo.
Ela vê o que o mundo não ousa dizer,
sente as raízes do verbo ainda cru.
O papel lhe responde em sombras e brisas,
no alfabeto de águas que dança sem rima.
Não busca verdades, colhe o que arde,
colhe a incerteza, a fresta, o presságio.
Ser poeta é saber-se eterna passagem,
caminho de Sol, de sombras e fados.
No fulgor das histórias que inventa, se inventa.
No lume da língua, seu corpo persiste.
No cristal do instante, inscreve seu nome,
feito estrela que, ao morrer, ainda brilha.
O que a define, seu tripé que se equilibra
na beira do tempo, desejo, opinião e fé
O corpo se inquieta, a alma silencia,
a mente divaga, o espírito vigia.
E quando tudo vacila, sustenta a vida,
Poeta em poesia!
Ella Dominici
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Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento
Ella, seus poemas me fazem imaginar uma floresta densa, repleta de mistérios, cujo acesso é para poucos aventureiros, para os quais, mais do que a coragem, imprescindível a abstração, a sensibilidade, a intimidade com o mundo onírico!
Neste poema, em especial, no sonho as metáforas jorram em cascatas de encantamento: ventre da areia; sal das perguntas; verbo ainda cru; cristal do instante…
Em síntese: um Banquete de Poesia!
Amadíssimo editor e amigo Sérgio Diniz,
Todo poeta se comove com palavras que nutrem e sopram as inspirações em poesia.
Somos sementes ao vento literário…
Gratidão