Ella Dominici: ‘Apagar-se é o preço de existir’


às 07;30 PM
O vazio chegou primeiro.
Antes do nome, antes da pele, antes do rosto
que me ensinaram a chamar de meu.
Fui menos que um nada,
um quase-ser esperando a sorte do verbo.
Apaguei-me para caber no mundo.
Deixei pegadas que não segui,
vendi silêncios para comprar presença.
E ainda assim, o resto de mim ficou
insistindo em existir no que me faltava.
Houve um tempo em que fui todos,
um eco na multidão dos que não sabem que são.
E então, o traço. O risco. A marca.
Era eu.
Não um nome, não um número,
mas um corte no papel do tempo.
Deixei o coro dos rostos repetidos.
O coletivo me olhou como se eu traísse
o pacto dos que preferem ser sombra.
Mas a sombra não tem peso,
não tem voz,
não tem gravidade para sustentar-se.
E eu queria ser corpo,
queria ser coisa que não se apaga.
Queria ser o avesso da ausência,
o nome que me veste sem caber em mais ninguém.
APAGAR-SE É O PREÇO DE EXISTIR
Ella Dominici
- Oceano profundo - 4 de abril de 2025
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Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento
Ella, deveria haver uma nova profissão: roteirista literário!
E você seria a primeira profissional dessa nova profissão.
Seus textos, em prosa e em versos, são roteiros, brilhantes roteiros para futuros filmes, encantadores de plateias sensíveis!
Não me sinto tão merecedora destes generosos e espirituosos comentários deste amigo Sérgio Diniz.
Acho suas ideias incríveis e quem não gostaria de experimentar o futuro literário?
Obrigada ilustre e querido Editor Mor!