Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
‘Uma expressão existe que não chega a ser arte’


Toda a Arte é expressão, mas nem toda a expressão é Arte, porque, efetivamente, não há Arte no deficiente que é mudo, como não há Arte naquele que, emotivamente, se exprime de forma inarticulada. A Retórica no sentido depreciativo, deturpando a palavra, simulando expressão, também não é arte.
A expressão artística não pode ser deficiente, nem transcendente, nem insuficiente, nem excessiva, mas pode haver arte na introdução intencional do teatro, da pintura, da escultura, da arquitetura. No estudo sobre a arte, o autor destas três situações, José RÉGIO, destaca igual número de aspetos eliminatórios de arte.
Uma expressão existe que não chega a ser Arte, pela qual se pode imaginar uma pessoa que, visivelmente emocionada, não consegue exprimir-se com clareza e rigor, por mais compreensível que seja a mímica, por mais profunda que seja a sua dor, no entanto, tais manifestações são uma forma de expressão.
Toda e qualquer expressão vital: desde o silêncio ao grito angustiado; da tristeza à alegria; da alteração da fisionomia à descompostura do corpo; exprime, a cada instante, a infinita complexidade da vida psíquica do ser humano, mas tais expressões vitais não são expressão artística, porque lhes faltam a intencionalidade, porque revelam sinceridade, porque denotam espontaneidade, porque não há o compromisso de suscitar a admiração, nem a preocupação do receio da crítica.
A expressão artística é uma representação mediata, indireta, em relação à expressão vital, tendo, apesar disso, de comum o ser humano, daí que a reciprocidade entre as duas expressões seja uma realidade, na medida em que o artista precisa de ser uma pessoa superiormente dotada, em experiência humana, isto é, rica em sentimentos, emoções e ideias.
A arte vai beber à expressão vital, quando um simples gesto humano é captado, descrito ou interpretado por um pintor, romancista ou ator, ela até complementa a expressão vital, tornando-se, por vezes, uma substituta da vida.
Com efeito: «muitas vezes a expressão artística se afirma suplente duma expressão vital frustrada ou incompleta (…) ganhando mais força e realidade, atingirem superior profundeza e superior subtileza (…) aqueles instintos, tendências, impressões, emoções, sentimentos, ideias a que o artista não soube, não pôde ou não quis dar expressão vital.» (RÉGIO, 1980:25). Apesar de tudo, a expressão artística não substitui a expressão vital, nem tão pouco uma se reduz à outra.
A expressão artística é interessada, intencional, dirigida, ao contrário da expressão vital, que é espontânea, reflexiva e imprevidente, todavia, certas atitudes da expressão vital, como o rir, o chorar e o gritar, podem transformar-se em expressão artística, se a intenção é, efetivamente, fixar e comunicar, dentro dos mais amplos limites, no espaço e no tempo, porém, a pura expressão vital, no seu aspeto mais rudimentar, espontâneo, não chega a ser expressão artística, precisamente por lhe faltar intencionalidade, premeditação, fixação e comunicação.
Naturalmente que tais limites definidores, são-no dentro de um relativismo mais ou menos dilatado e subjetivista.
BIBLIOGRAFIA
RÉGIO, José, (1980). Três Ensaios sobre a Arte. Em Torno da Expressão Artística. 2ª Ed. Porto: Brasília Editora.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
- Cidadão luso-brasileiro - 28 de novembro de 2025
- Pensar o mundo para o século XXI - 21 de novembro de 2025
- A conflitualidade humana - 10 de novembro de 2025
Natural de Venade, freguesia portuguesa do concelho de Caminha, é Licenciado em Filosofia – Universidade Católica Portuguesa; Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea – Universidade do Minho – Portugal e pela UNICAMP – Brasil; Doutorado em Filosofia Social e Política pela FATECBA; autor de 14 Antologias próprias: 66 Antologias em coedição em Portugal e no Brasil; mais de 1.050 artigos publicados em vários jornais, sites e blogs; vencedor do III Concurso Internacional de Prosa – Prémio ‘Machado de Assis 2015’, Confraria Cultural Brasil – Portugal – Brasil; Prêmio Fernando Pessoa de Honra e Mérito – Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas do Brasil’ 2016; Vencedor do “PRÊMIO BURITI 2016”; Vencedor do Troféu Literatura – 2017; Cargos: Presidente do NALAP – Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Lisboa;; Condecorações: Agraciado com a ‘Comenda das Ciências da Educação, Letras, Cultura e Meio Ambiente Newsmaker, Brasil’ (2017); Título Honorífico de Embaixador da Paz; Título Nobiliárquico de Comendador, condecorado com a ‘Grande Cruz da Ordem Internacional do Mérito do Descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral’ pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística; Doctor Honoris Causa en Literatura” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.

