dezembro 05, 2025
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A fuga no ônibus

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José Antonio Torres: Crônica ‘A fuga no ônibus’

José Antonio Torres
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Imagem criada por IA da Meta
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Seguindo com a saga de a Casa de Cômodos – como os casos reais já contados aqui: ‘O velhinho do terno’ e ‘O bêbado caloteiro’ – vez por outra aparecia um caloteiro. Uns criavam caso, outros apenas fugiam na calada da noite para não pagar o aluguel do quarto em que moravam. No caso que passo a relatar, esse fugiu no início da tarde.

A dona da casa de cômodos tinha o costume de tirar um cochilo depois do almoço. Isso a revitalizava. Poderia estar extremamente cansada, mas após o seu cochilo, acordava revigorada e bem-disposta.
Era uma rotina de muitos anos. Quando ela não conseguia tirar esse cochilo após o almoço, o dia ficava pesado, arrastado e cansativo.

Certo dia, final de mês, um dos inquilinos – que estava com o aluguel do quarto atrasado – resolveu sair sem pagar. Fez isso exatamente no início da tarde. Para seu azar, nesse dia a dona da casa de cômodos não estava dormindo, pois verificava as contas que precisava pagar, separando o dinheiro e verificando se já possuía o necessário.

De repente, ela percebeu, pela janela do quarto que dava para o quintal, a movimentação de alguém passando e viu que era o inquilino que estava com o aluguel atrasado. Ela achou estranho que, naquele horário, ele estivesse em casa e não trabalhando. Intrigada, ela levantou de onde estava, foi olhar e constatou que ele estava saindo com a mala na mão em direção ao portão. Com uma agilidade quase felina, foi atrás dele para tentar evitar o calote que se mostrava iminente.

Ele foi caminhando pela rua e ela, ao lado dele, dizendo em tom ríspido:

⁃ Ou você paga o que me deve ou eu vou te seguir até onde você for e vou te fazer passar vergonha.

Ele chegou a um ponto de ônibus. 0 ônibus chegou e ele entrou. Ela entrou também, atrás dele. Ele passou pela roleta após pagar a passagem – naquela época, os ônibus tinham, além do motorista, um trocador que recebia o valor da passagem, dava o troco e controlava a roleta para o passageiro passar – e o trocador travou a roleta para que ela pagasse a passagem. Ela alterou a voz e disse:

⁃ Quem vai pagar a minha passagem é esse safado que está fugindo sem pagar o aluguel do quarto em que morava na minha casa!

Todos no ônibus olharam para o caloteiro. Ele se voltou e pagou a passagem dela.

O ônibus seguiu pela Avenida Brasil – quem mora no Rio de Janeiro sabe da extensão dessa via, que liga vários bairros – e ela continuou falando bem alto:

– Aonde você for, eu vou, até você tomar vergonha na cara e pagar o que me deve.

0 ônibus continuou em seu trajeto. Ele, já demonstrando profundo desconforto com a situação, sentindo os olhares dos passageiros cravados nele e o burburinho das conversas criticando-o, meteu a mão no bolso, contou o dinheiro, virou-se para ela e pagou a dívida. Ela tocou a campainha para saltar e o motorista disse que só no próximo ponto, mas que ainda estava distante.

Finalmente, ela saltou do ônibus. Não tinha a menor noção de onde estava. Perguntou como fazer para retornar ao bairro em que morava. Alguém a orientou que precisaria atravessar as pistas para o outro lado e pegar o mesmo ônibus em que veio até ali, só que no sentido contrário, ou então, alguns outros que indicou. Assim ela fez e retornou para a sua residência.

Após passada a situação e ainda nervosa com a atitude impensada que tomou, caiu em si e percebeu que poderiam ter acontecido coisas muito perigosas com ela. Prometeu a si mesma que jamais repetiria o feito.

José Antonio Torres

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21 thoughts on “A fuga no ônibus

  1. Maravilhoso ! Gostei bastante, texto muito bem elaborado, engraçado, bem atual mostrando a realidade de algumas pessoas da nossa cidade. Continue assim. Mais uma vez , Parabéns Amigo.

    1. Ivone, muito obrigado pelo carinho e por tuas palavras.
      A crônica expressa um fato real ocorrido no final dos anos 60 e início dos anos 70. Não lembro o ano exato.
      Um beijo de luz no teu coração.

  2. Parabéns pela crônica! A sua escrita é leve, mas carregada de significado. O ritmo da leitura é tão agradável que a gente não quer que termine.

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  4. Amigo, uma crônica urbana com realidade da cidade e é claro com as mazelas que nos atingem.Muito interessante Zé!👏👏👏

    1. Sérgio Albuquerque, muito obrigado pelo carinho.
      Crônica real, meu amigo. Você conheceu a personagem principal.
      Um forte abraço de luz.

  5. Mulher corajosa. Se fosse hoje, talvez, ela não tivesse nem a “petulância” de cobrá-lo. Poderia estar correndo um sério risco de vida!
    Parabéns pelo relato!

  6. Helena Mazurk, muito obrigado pelo carinho.
    Ela possuía esses rompantes. Fazia as coisas no impulso. Quando a situação passava, caía em sí e percebia que as suas ações poderiam ter acarretado consequências graves. Mas aí as coisas ja haviam acontecido e, graças a Deus, nunca se prejudicou.
    Um beijo de luz no teu coração.

  7. Sua historia foi otima, lembrei de mim. Eu tbm já deixei o impulso tomar conta da situação, parece que o cérebro fica burro e a gente se acha imortal. Eu puxei a minha carteira da mão do assaltante ( pensando na dor de cabeça que ia dá para tirar todos os documentos) e entreguei o celular para ele, foi quase uma troca ( naquela época o celular não tinha toda a nossa vida dentro dele, era só mensagens e ligações praticamente. Amei, me imaginei no lugar da proprietária do quarto kkkkkk.

    1. Luciana, muito obrigado pelo carinho.
      Ela era muito impulsiva. Não pensava nas consequências. Depois do fato ocorrido, e quando as coisas acalmavam, é que ela caía em si.
      Um beijo de luz no teu coração.

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