Manifesto de amor à minha mãe
Ato tão inerente à vida
que aprendemos ao nascer
o que precisa ser feito; respirar.
80 anos de idade,
mais da metade dando a vida pelos filhos,
segurando o choro,
somente suspirando,
pra chorar escondida,
respirar aliviada quando o sol nascia
levando embora a noite passada à vela!
Norma da vida , respire, respire fundo,
ela esqueceu de respirar.
Sem dor.
Sem lamentação.
Sem culpa de nada.
Ela só parou de respirar.
Esqueceu, esqueceu como era o rosto dos filhos,
esqueceu o som da minha voz,
imitei criança pra ser abençoado,
esqueceu dos netos,
menos do Nascimento da primeira,
esqueceu tanta coisa…
até esquecer como é que se respira.
Ensinou-me tantas coisas
pra esquecer tudo depois,
e eu agora guardo em mim todo o seu amor,
o seu calor, e não vou me esquecer.
Mas ela esqueceu até de respirar.
Mamãe, meu ar!
Paulo Siuves
paulosiuves@yahoo.com.br
- Almas e verdades - 11 de novembro de 2024
- Acordes - 21 de outubro de 2024
- A canção que nunca chega ao fim - 28 de setembro de 2024
Natural de Contagem/MG, é escritor, poeta, músico e guarda municipal, atuando na Banda de Música da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte como Flautista. É graduado em Estudos Literários pela Faculdade de Letras (FALE) da UFMG. Publicou os livros ‘O Oráculo de Greg Hobsbawn’ (2011), pela editora CBJE, e ‘Soneto e Canções’ (2020), pela Ramos Editora. Além desses, publicou contos e poemas em mais de cinquenta antologias no Brasil e no exterior.