Ella Dominici: Poema ‘Anatomia das vivas ondas’
Anatomia das vivas ondas!
I-
De um exílio entre o mar e o céu
sendo o pisar em estrela, maré de areia,
do outro lado, ilha ensolarada em véus do nada
Nua como um dia que engatinha a vida
Entre o ser das rochas, alto e decidido
ao mínimo de mim, conceito dividido
no engolir dunas pela boca sedenta
Desolada figura, símbolo da existência
Revendo sempre como nascem vagas,
crescem
quase imortalizado o tempo nas alturas,
arrebentam
renascem no ínfimo tamanho de uma bolha, alongada
desenhando um mapa em água
Nem mesmo em dor consigo compreendê-la, vaga
efêmera se desmancha como num parto de uma fêmea
minuciosamente diz num beijo um louco amor, alada
cavalga como uma amazona reclusa nas
montanhas
na liberdade do levantar de saias por movidas brisas
Diálogo com ímpeto aquoso
II-
Traduza o sentimento do pavor, do ímpeto
do mar que movimenta forte e lento,
sem demonstrar o verdadeiro encanto
Traduza onda que canta no marulho
como criança antiga empertigada
desesperando a noite que engasgada
fenece em teu abraço disfarçada
O que sei de mim se sou das águas
onda, corpo, sinuosamente escuma,
sendo enfim terra no indelével plano,
do exílio entre o mar e minha voz exígua ,
o que sei de mim, em terra de escolhas,
olhando a querer céu de Estrela Única.
Ella Dominici
Contatos com a autora
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Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento