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Tudo junto e misturado

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Ivete Rosa de Souza: Crônica ‘Tudo junto e misturado’

Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza
Tudo junto e misturado
Microsoft Bing – Imagem criada pelo Designer

Hoje eu acordei com a cabeça nas nuvens, fazendo as coisas sem propósito algum. Então lembrei-me das conversas entre minha mãe e minha avó, e me bateu uma vontade enorme de usar todas as frases que sempre ouvi.

Para quem visse ou ouvisse de fora, com certeza iria viajar na maionese, pois duas nordestinas juntas seria no mínimo cômica a situação.

 —Tu viste, fulana, anda enrabichada por fulano, não tem cabeça, depois daquele fuleiro do Zé, ela está trocando seis por meia dúzia.

—É, mãezinha, essas moças de hoje em dia são descabeçadas, não sabem se guardar. São todas esquecidas, não sabem viver sem um homem.

—Chega de conversa fiada, tenho muito o que fazer, bora pôr a mão na massa que daqui a pouco o povo chega para comer.

 A conversa sem pé e sem cabeça parava no caminho, voltavam aos afazeres. Vez ou outra, minha avó me olhava, no canto da cozinha, de orelhas em pé, ela não gostava de criança atrapalhando: 

—Se não for para ajudar, que não venha atrapalhar. Mas no final, ela sorria sabia que daquelas conversas desconexas, com certeza, renderiam uma história. Então, sorrindo, ela dizia: 

—Passa, menina, vai procurar o que fazer.

Ao longo de nossas vidas, memórias são um vício, e vez ou outra eu me pego ouvindo minha avó. Por muitas vezes eu chorava, com medo de ser reprovada na escola; não que fosse má aluna, até me aplicava, gostava de estudar. Mas sempre fui cabeça oca, ou melhor, distraída. 

Bastava ouvir um passarinho, ou uma voz ao longe, pronto: tudo desaparecia, e eu só me concentrava na melodia do pássaro, ou na voz que cantava ao longe.

 —Essa menina vive no mundo da Lua, dizia minha mãe. Não sei se eu viajava tão longe, mas, com certeza, devo ter ido até lá em algum momento.

Quando andava encafifada, com algum problema de Matemática, chegava a ter dores de cabeça, pois nunca gostei dessa matéria, e, então, chorava. O choro aliviava meu coração, me levava a viajar para um mundo de poesia. Depois de escrever sei lá quantas folhas, conseguia voltar e solucionar o desaforado. Para esses momentos, a frase predileta de minha mãe era: “Fazer tempestade em copo d’água”. A tempestade poderia vir, mas eu conseguia resolver o pepino.

Engraçado que até hoje me pego usando as expressões que me desafiam a escrever; mesmo que faltem as palavras, os sentimentos se misturam, para lá e para cá, e, bem ou mal, alguma coisa aparece.

Ultimamente tenho estado em alerta, com medo de “meter os pés pelas mãos”. Muitas palavras que se abrigam em meus pensamentos me causam angústia e pavor. Vejo tantas coisas ruins acontecendo no mundo que, introspectivamente, tento driblar essa fúria que anda me vigiando; o jeito é: “Fazer vista grossa”, deixar passar a tristeza da impotência.

O bem e o mal caminham lado a lado, e podemos escolher e caminhar do lado certo. Decidi que falar do que gosto, expressar meus sentimentos, olhar os outros com gentileza e gratidão, ameniza esse terror que me assombra. O jeito é: “Dar a volta por cima”, não me deixar levar pela correnteza e sair do possível, para atingir o necessário e, quem sabe, o impossível. No fim das contas: “Quem não arrisca não petisca”.


Ivete Rosa de Souza


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