Ella Dominici: ‘Cotovia mestre é pai’
Como eu sei que é uma cotovia que me canta à janela
nas manhãs de sentinela…
graças à beleza de seu canto proverbial, a cotovia…
O pássaro pontual me habita a vida
em relógio de mestre pulsa ponteiros em usual
batida
não há dúvida na lembrança nem há breu na aliança
paternal
A cotovia que me ensinou a piar…quando minha voz
pareceria de uma corujinha…e a voar com asas curtas
de uma pequenina fêmea passarinha
A cotovia me mostrou a água boa, beber do lago limpo
não das poças
pescando levemente ou apreendendo as minhocas
nutrindo as carências
A mestre pássaro passou a voar-me a lado a lado
em poético voo palavrear de ensinamentos
em meus lamentos ensinou driblar os ventos
saramos juntos juvenis e mais maduras…dores
trocamos penas primaveras, vis invernos
se ela voou em tempo certo, nada importa…
meu pai é isto cotovia que avoou, passarinho que me volta bica, canta, assobia, fala o nome e me vicia na interminável alegria de lembrar sua poesia que na minha se esguia e intensamente me cria.
Me criou assim me criará sem fim…
Papai
O elo em aves ultrapassa véu de tempos
nas colinas se aguarda a breve volta
não da ave
de um tempo onde os elos mais sublimes
serão mais altos que todos os caminhos
Ella Dominici
Contatos com a autora
- Correntezas de um rio - 22 de novembro de 2024
- Soneto do mel - 18 de novembro de 2024
- Morenos fios - 11 de novembro de 2024
Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento
Ella, em mais um poema-viagem com as palavras e emoções, destaco o final:
Papai
O elo em aves ultrapassa véu de tempos
nas colinas se aguarda a breve volta
não da ave
de um tempo onde os elos mais sublimes
serão mais altos que todos os caminhos