Paulo Siuves: Crônica ‘A Grande Fúria do Mundo’
Ah, Morte, és tu a eterna sombra que percorre as trilhas da vida! Na imensidão do viver, és o ponto final que a todos iguala. És a grande fúria do mundo, a inevitável tempestade que varre os sonhos e as esperanças, deixando atrás de ti o silêncio frio do vazio.
Tu, que decides o fim de todas as jornadas, vens com teu manto negro e teus olhos sem vida, apagando a chama da existência. Teu toque é gelado, arrepiando os vivos, teu abraço é a morada derradeira que a todos acolhe sem distinção. És a irmã sombria da vida, a companheira inseparável do tempo, que caminha ao lado dos mortais, lembrando-lhes constantemente da finitude de seus dias.
Em cada pôr do sol, no declínio das horas, vejo teu reflexo, Morte, na agonia dos últimos raios de luz. És a consumação de todos os momentos, o suspiro final que nos arranca da carne e nos devolve ao pó. Nos teus braços, acabam as dores e as delícias, acabam as lutas e as conquistas, e resta apenas o silêncio impenetrável do nada.
Oh, grande fúria do mundo, tua presença é um paradoxo cruel. És temida e desejada, repudiada e acolhida. No teu seio os cansados descansam, os atormentados encontram paz. Mas, ao mesmo tempo, és o terror dos corações, o fantasma que assombra os sonhos, a certeza que corrói a alma.
Tu, Morte, és a revelação do efêmero. Em teu nome, o homem constrói monumentos e cria memórias, na vã tentativa de se perpetuar além de ti. És o espelho em que se refletem todas as vaidades, a prova de que, diante de ti, somos todos frágeis, todos perecíveis.
No entanto, há quem te veja como a libertação suprema, o fim das amarras da existência. És a porta para o desconhecido, o portal para o infinito. Na tua escuridão, há quem encontre a luz, na tua ausência, há quem encontre a plenitude.
Ah, Morte, grande fúria do mundo, és o dilema insolúvel da vida. Na tua sombra, somos chamados a viver intensamente, a amar com urgência, a sonhar sem limites. És a adversária que nos impulsiona, a força que nos desafia a encontrar significado no breve lampejo de nossa existência.
E assim, enquanto caminhamos na tua direção inevitável, tentamos, em cada passo, fazer valer a jornada. Pois sabemos que, ao fim, nos teus braços, seremos todos iguais, todos silenciosos, todos eternos na tua fúria serena.
Paulo Siuves
Contatos com o autor
- Acordes - 21 de outubro de 2024
- A canção que nunca chega ao fim - 28 de setembro de 2024
- O voo da dente-de-leão - 16 de setembro de 2024
Paulo, de todos os seus textos que publiquei até agora, este é o que mais gostei! Na forma e no conteúdo! Impecabilíssimo! Merece ser impresso, emoldurado e colocado na parede de sua sala!
Prezado Sérgio Diniz da Costa,
Agradeço profundamente suas palavras tão gentis e motivadoras sobre minha crônica “A Grande Fúria do Mundo”. Saber que meu texto tocou seu coração e o inspirou a tal ponto me deixa sem palavras. Sua leitura atenta e sensível me emociona e me faz sentir que todo o esforço valeu a pena.
É uma honra enorme receber um elogio de alguém com a sua expertise e experiência no jornalismo. Sua opinião me deixa ainda mais convicto da importância de continuar escrevendo e buscando aprimorar minha arte.
Espero que continue apreciando minhas crônicas e que possamos ter a oportunidade de trocar mais ideias sobre literatura e a vida em breve.
Aproveito a oportunidade para agradecer ao jornal por publicar a minha crônica e por todo o apoio que tenho recebido.
Com os mais sinceros agradecimentos,
Paulo Siuves
Boa noite, nobelíssimo doutor. Não posso e nem consigo objetivar essa obra ” A grande fúria do mundo”. Parabéns, meu amigo!
Em todos os textos que li sobre a vida e a morte esta emocionada crônica do poeta e escritor Paulo Siuves tocou no mais profundo do meu âmago e me fez sentir uma reflexão sobre a importância do conhecimento em escrever e passar toda essência mais pura desse tema tão especial e incompreensível para nós pobres mortais .
Parabéns , vale mesmo a pena imortalizar numa moldura.
Belo e assustador!